A ABRACOPEL (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade) lançou em maio deste ano o Segundo Anuário Estatístico Abracopel – Acidentes de Origem Elétrica, no qual aponta que em 2018 foram registrados 1.424 acidentes de origem elétrica, dos quais 836 foram causados por choques elétricos, 537 incêndios por sobrecarga ou curto-circuito e 51 por descargas atmosféricas. Destes resultando 622 mortes. Estes novos valores representam um aumento de 2,67% em comparação ao ano de 2017 e de 37,2% em relação ao ano de 2013, ano em que o projeto do anuário teve início. E o cenário para o ano de 2019 é ainda pior.
Inimaginável pensar nossa vida diária sem o uso da energia elétrica. Desde as mais simples atividades até as mais complexas, todas tem a energia elétrica como fator preponderante.
A eletricidade está inserida de forma tão contundente em nossa vida que sua falta praticamente impede o desenvolvimento da maioria de nossas atividades, tanto pessoais como profissionais.
É por esta razão que todas as edificações possuem sua rede de instalações elétricas de forma ao atendimento das necessidades humanas. Desde iluminação ambiente, refrigeração, aquecimento, bombeamento de água e esgoto, alimentação elétrica de diversos tipos de equipamentos e eletrônicos, a vida sem eletricidade simplesmente vira um caos.
Mas, ao mesmo tempo que a eletricidade é nossa aliada, ela também pode ser um inimigo mortal quando tratada com desleixo e sem a devida importância. Eletricidade mata e destrói.
Muitas das pessoas não sabem, mas no Brasil as atividades de projeto e execução de instalações elétricas são regidas por normas técnicas emitidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), e no caso específico das instalações de baixa tensão (uso residencial) a principal norma é a NBR 5410:2005 – Instalações elétricas de baixa tensão. Existem também outras normas técnicas, inclusive normas para a fabricação e desempenho dos elementos usados nas instalações, como por exemplos cabos elétricos.
Infelizmente encontramos uma grande contradição, pois ao mesmo tempo em que a eletricidade ganha uma importância cada vez maior em nossa vida, simultaneamente as instalações elétricas são tratadas com descaso e relegadas a um papel secundário.
Mas porque isso acontece?
De uma forma geral, tem se problemas originados por projetos mal elaborados, obras mal contratadas, mão de obra desqualificada e despreparada, material de baixa qualidade e falta de manutenção preventiva periódica. Infelizmente esta é uma realidade cada vez mais comum.
Apenas para exemplificar a aplicação de material elétrico de baixa qualidade nas obras, vejamos o caso dos fios e cabos elétricos, talvez o elemento mais importante de uma instalação elétrica predial. De acordo com ensaios realizados pela QUALIFIO – Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos, no ano de 2017, dos 106 fabricantes de fios e cabos existentes no Brasil, 90 (85% do total) fabricantes tiveram amostras de seus produtos analisados em laboratórios, num total de 851 amostras e destas apenas 410 (48%) amostras foram consideradas conformes com relação ás Normas técnicas vigentes. 441 amostras, ou seja, 52% foram consideradas não conformes. Em 2018 foram analisadas amostras de 96 fabricantes, 611 amostras foram submetidas aos ensaios e destas foram consideradas conforme apenas 263 amostras, 43% do total. 348 amostras, ou seja, 57% das amostras estavam em desconformidade com as Normas técnicas. Resumindo, a maioria dos fios e cabos vendidos no mercado não esta dentro dos padrões de segurança estabelecidos pelas Normas técnicas e pelos órgãos regulamentadores. E esse material inadequado pode estar sendo instalado, ou pior, ter sido instalado em seu condomínio, gerando aumento no consumo de energia e considerável aumento de risco de choques elétricos e de incêndio.
Com relação á mão de obra, infelizmente a realidade é que a grande maioria dos eletricistas prediais desconhecem as Normas técnicas e até regras de segurança básicas. Esta também é a realidade de muitos engenheiros habilitados que atuam no mercado, muitos com foco em serviços de construção civil e que acabam por relegar a execução das instalações elétricas a um segundo plano.
Quando pensamos na manutenção periódica das instalações elétricas do condomínio a triste realidade é que estas somente sofrem intervenção quando algum problema já esta ocorrendo, uma bomba queimou, um disjuntor esta desarmando, ou algum morador relata ter levado choque elétrico no bebedouro do hall. A falta de manutenção das instalações elétricas é uma realidade no mundo condominial. Muitos condomínios jamais tiveram suas instalações elétricas vistoriadas desde sua construção, alguns com mais de 30 anos e sempre que surge alguma demanda a execução do serviço corretivo fica por conta de mão de obra sem qualidade técnica minimamente aceitável, sem o devido treinamento.
O que fazer para reverter este quadro no mercado condominial?
O primeiro passo, e o mais importante, é a conscientização da população condominial de uma forma geral, em especial do síndico. Não somente pelo poder de direcionar as ações de um condomínio, mas também por que inevitavelmente este poderá ser responsabilizado por ações ou omissões que vierem a acarretar em acidentes de origem elétrica.
A contratação de profissionais e empresas de engenharia idôneas e devidamente registradas nos conselhos regionais também contribui significativamente para a redução de acidentes de origem elétrica. Há no mercado uma variedade de opções de profissionais e empresas capacitados para execução dos serviços de elaboração de projetos, vistorias e laudos, assessoria e consultoria técnica, fiscalização, execução de obras e de serviços de manutenção preventiva e corretiva.
A realidade exige uma mudança rápida de conceito e postura por parte de todos os atores ligados á esta questão.
Até quando síndicos, administradores condominiais, engenheiros, eletricistas, fabricantes e comerciantes de material entenderão que todos são RESPONSÁVEIS pelo aumento destas estatísticas e que estão colocando em risco a vida de milhares de pessoas?
Não há tempo a perder.
Não há vidas a perder.
Engenheiro eletricista Júlio César Máximo
ITC Thermographer Nível 1
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