Mais que uma força vital na sociedade moderna, a
eletricidade é, simultaneamente, uma necessidade básica
para alimentação e funcionamento de dispositivos simples e
complexas infraestruturas prediais e industriais, assim como
constante risco para a segurança de pessoas, instalações e
edificações.
Quando mal projetada, manuseada, ou manutenida de
maneira inadequada, pode ser extremamente perigosa,
resultando em acidentes graves, lesões, e até mesmo mortes,
além de prejuízos de grande monta. A segurança em
instalações elétricas se torna, por conseguinte, preocupação
crítica e constante, para empresas, profissionais do setor, e
usuários que fazem uso de energia elétrica em seu dia a dia.
Existem inúmeros exemplos de acidentes graves causados por
falhas em instalações elétricas. Em muitos desses casos, a falta
de manutenção, o não cumprimento de normas de
segurança, ou o uso de equipamentos defeituosos foram os
principais fatores contribuintes. Um exemplo notável é o
incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, Brasil, que ocorreu em 2023.
O incêndio, causado por um curto-circuito no sistema de
iluminação, resultou na morte de 242 pessoas e feriu centenas
de outras. Este incidente destaca a importância de se garantir
que todas as instalações elétricas sejam seguras e estejam em
conformidade com as normas vigentes.
Nos últimos dez anos, iniciativa da ABRACOPEL – ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE CONSCIENTIZAÇÃO PARA OS PERIGOS DA
ELETRICIDADE1 tem se encarregado de mapear, quantificar e
classificar acidentes com instalações elétricas, por natureza,
região, operadores e usuários. Em sua versão mais recente, o
ANUÁRIO ESTATÍSTICO DE ACIDENTES DE ORIGEM ELÉTRICA 2024
ANO BASE 20232,3 trás números alarmantes, que seguem
destacados na sequência deste artigo:
1 – DA SÉRIE HISTÓRICA DE ACIDENTES DE ORIGEM
ELÉTRICA (2013 a 2023)
Em primeiro plano, a série histórica (2013 a 2023) do total de
acidentes de origem elétrica, ao contrário do que se poderia
esperar, mostra constante e preocupante aumento .
Observa-se, pelos números, média de 1482 acidentes por ano,
com 718 mortes. Considerando somente dias úteis (261 em
média), tem-se, aproximadamente, 5,7 acidentes e 2,75
mortes anuais.
Voltando-se para a distribuição dos acidentes, por natureza do
sinistro, os detalhes podem ser verificados na figura 02.
Destaque-se que, para fins de categorização das naturezas
dos acidentes elétricos, foram considerados os grupos: (01)
CHOQUES ELÉTRICOS; (02) INCÊNDIOS (originados por questões
elétricas, como curtos, sobrecargas e sobreaquecimentos) e;
(03) DESCARGAS ATMOSFÉRICAS.
Redirecionando o foco, para corte do ano de 2023, os números
não são menos alarmantes:
Desta vez, tomando o total de 2089 acidentes por ano, com
781 mortes, obtém-se as médias diárias (253 dias úteis) de,
aproximadamente, 8,26 acidentes e 3,10 mortes.
2.1 – DA DISTRIBUIÇÃO REGIONAL, POR NATUREZA, DOS
ACIDENTES DE ORIGEM ELÉTRICA
Ainda analisando os números de 2023, a distribuição regional
de acidentes, por natureza.
Ainda analisando os números de 2023, a distribuição regional
de acidentes, por natureza (CHOQUES ELÉTRICOS; INCÊNDIOS
e; DESCARGAS ATMOSFÉRICAS) trás os números detalhados nas
figuras 04, 05 e 06, como se pode verificar na sequência.
2.2 – DA DISTRIBUIÇÃO DOS INCIDENTES ORIGINADOS POR
CHOQUES ELÉTRICOS EM 2023
De maneira a permitir análise pontual sobre os incidentes
originados por choques elétricos, o trabalho produzido pela
ABRACOPEL destrinchou os números, dentro dos seguintes
parâmetros:
(01) Distribuição de incidentes (e mortes), por local de
ocorrência ;
(02) Distribuição de mortes registradas, por profissão e;
(03) Principais causas de acidentes em áreas residenciais.
3 – DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE ACIDENTES EM
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
Os números trazidos pelo anuário da ABRACOPEL atestam que,
acidentes elétricos podem ocorrer em diversas situações e
ambientes, e por causas amplamente variadas, estando as
principais abaixo delineadas:
(01) Falta de Manutenção Adequada: A ausência de
manutenção regular em sistemas elétricos pode levar a
falhas nos equipamentos, como fios desgastados,
conexões soltas, e dispositivos defeituosos, que podem
causar curtos-circuitos e incêndios;
(02) Sobrecarga de Circuitos: O uso excessivo de dispositivos
elétricos em um único circuito pode sobrecarregar o
sistema, causando superaquecimento e,
eventualmente, incêndios;
(03) Isolamento Deficiente: Fios ou cabos com isolamento
danificado expõem os condutores ao contato com
outros materiais ou superfícies, aumentando o risco de
choque elétrico ou incêndio;
(04) Falta de Treinamento: Pessoas que lidam com
eletricidade sem treinamento adequado estão mais
suscetíveis a cometer erros que podem resultar em
acidentes. A falta de conhecimento sobre práticas
seguras (destaque para a NORMA REGULAMENTADORA
DE SEGURANÇA DO TRABALHO – NR 10) e o manuseio
incorreto de ferramentas e equipamentos são fatores
significativos e;
(05) Uso de Equipamentos Defeituosos ou Não Conformes:
Utilizar equipamentos elétricos que não atendem às
normas de segurança, ou que estão danificados, pode
levar a falhas graves, resultando em choques elétricos,
explosões ou incêndios.
4 – DAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO E SEGURANÇA
A prevenção de acidentes elétricos é possível através da
adoção de práticas de segurança rigorosas e da
conscientização sobre os riscos associados à eletricidade.
Algumas das principais medidas de segurança incluem:
(01) Manutenção Regular: Realizar inspeções e manutenções
periódicas em instalações elétricas é fundamental para
identificar e corrigir problemas antes que eles resultem
em acidentes. Isso inclui verificar a integridade dos
cabos, conexões, disjuntores e outros componentes;
(02) Treinamento Adequado: Profissionais que trabalham
com eletricidade devem receber treinamento
específico em normas de segurança elétrica. Isso inclui
o conhecimento sobre como lidar com situações de
emergência, uso adequado de equipamentos de
proteção individual (EPIs), e práticas seguras de
trabalho;
(03) Equipamentos de Proteção: O uso de EPIs, como luvas
isolantes, botas de borracha, capacetes, e óculos de
proteção, é essencial para proteger os trabalhadores de
choques elétricos e outros riscos. Além disso, o uso de
ferramentas isoladas pode ajudar a prevenir acidentes
durante a manipulação de sistemas elétricos;
(04) Projetos Seguros: As instalações elétricas devem ser
projetadas de acordo com normas e regulamentações
específicas, garantindo que os sistemas sejam seguros
para uso. Isso inclui o dimensionamento correto dos
circuitos, a instalação de dispositivos de proteção, como
disjuntores e fusíveis, e o uso de materiais adequados e
certificados;
(05) Etiquetagem e Sinalização: É importante que todos os
componentes de uma instalação elétrica estejam
devidamente etiquetados e que áreas perigosas sejam
sinalizadas adequadamente. Isso ajuda a prevenir o
acesso não autorizado ou o manuseio incorreto dos
sistemas elétricos e;
(06) Desenergização de Circuitos: Antes de realizar qualquer
trabalho em sistemas elétricos, é crucial que os circuitos
sejam desenergizados, ou seja, desligados e isolados da
fonte de energia. Isso elimina o risco de choques
elétricos durante a manutenção ou reparo.
Importante reiterar e relembrar, conforme texto anteriormente
publicado, que as instalações elétricas formam um dos
inúmeros sistemas em operação em edificações. Logo, é de
severa importância adotar visão sistêmica voltada para a
prevenção, implementando, preferencialmente, as rotinas e
procedimentos abaixo listados:
(01) Adotar contratação periódica de laudos técnicos de
inspeção predial (LTIP) – norteados pela norma ABNT NBR
16747:2020, elaborados por times de engenharia
multidisciplinar, e abrangendo todos os sistemas do
prédio;
(02) Implementar e fortalecer rotinas de manutenção
preventiva periódica, sempre tendo por norte planos de
manutenção preventiva (PMP) – baseados na ABNT NBR
5674:2012;
(03) Manter atualizado o acervo técnico documental do
prédio, que permitirá condução mais eficaz das
atividades técnico-operacionais do prédio;
(04) Implantar política para apresentação e análise dos
escopos de reformas em unidades privativas, cujos
procedimentos e requerimentos são padronizados pela
ABNT NBR 16280:2015 e;
(05) Contratar assessoria de engenharia especializada, com
o mister de zelar pela saúde e conformidade técnica do
condomínio, trazendo assim, transparência,
profissionalismo e segurança para a gestão, edificação e usuários.
Engenheiro especialista Fernando A Santoro Autran Jr possui 25 (vinte e
cinco) anos de experiência no segmento de engenharia diagnóstica e
perícias judiciais. É responsável técnico da empresa FRX PERÍCIAS &
CONSULTORIA, membro do IBAPE, CENB, ASBRACO, ABRAEST,
coordenador de cursos de pós-graduação em engenharia de energia e,
responde pela Diretoria de Relações Institucionais do Sindicato Nacional
dos Peritos de Justiça – SINPEJUS NACIONAL.
fautran@frxpericias.com