Muito tem se falado de ética nos últimos tempos. Escândalos na política principalmente, têm levantado a questão dos limites éticos nas relações profissionais.
Até onde vai o limite de uma relação sem ferir a ética moral e profissional?
Acidentes como os de Brumadinho, por exemplo, expõem uma conduta que fere os princípios éticos da profissão da engenharia, colocando em risco a vida de centenas de pessoas.
Infelizmente também é comum vermos casos de explosão em condomínios por serviço mal executado ou por falta de manutenção e até mesmo mortes por descarga elétrica em local que deveria, por lei, existir aterramento adequado e atestado por um profissional capacitado.
E quando nos deparamos com esses casos, nos questionamos: até onde vai a ética do ser humano ao aceitar que serviços mal executados, falta de manutenção ou “vista grossa” coloquem em risco a vida de pessoas?
Para contextualizar essa discussão vamos ver, antes, o que é Ética por definição:
Ética é a ciência que estuda os valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade. É um conjunto de princípios ou padrões pelos quais se pautam a conduta humana. Algumas vezes a ética é chamada de “moral”, e por extensão, seu estudo frequentemente chamado de Filosofia Moral. Assim, como um ramo da Filosofia, Ética é considerada uma ciência normativa, já que trata de normas de conduta humana. Na prática, agir eticamente é agir de acordo com os preceitos da moral instituída.
A Ética é importante e necessária para o bem-estar de uma sociedade e, sendo assim, se aplica a todas as esferas, seja na educação, nos relacionamentos sociais e, muito importante, nas profissões. Agir em contradição com as normas de uma sociedade, invariavelmente resulta em conflito e muitas vezes em danos a alguma parte.
A Ética porém, não é absoluta e imutável, e suas mudanças ocorrem normalmente através da quebra do padrão anterior. E a Ciência, muitas vezes, é uma das grandes responsáveis pelas quebras desses padrões, que resultam da evolução moral de nossa sociedade.
O comportamento de uma pessoa é quase sempre ético quando ela faz o que é melhor para todos!
Ética pessoal
A Ética pessoal tem origem na família, na escola e na vida social do indivíduo. Os pais são a primeira fonte de influência comportamental, emocional e ética nos filhos. Valores como: falar sempre a verdade; ser sempre honesto; importância do trabalho; autorresponsabilidade e outros, são aprendidos principalmente nesses ambientes.
Ética profissional
A profissão é um bem social da humanidade e o profissional é o agente capaz de exercê-la, tendo como objetivos maiores a preservação e o desenvolvimento harmônico do ser humano, de seu ambiente e de seus valores.
No aspecto profissional, a Ética perpetua os princípios morais fundamentais do certo ou errado. Mas aqui, especificamente, podemos traduzi-la como a maneira pela qual o ser humano conduz o desempenho de suas funções, obedecendo aos princípios que regem a moral, o respeito, o conhecimento, o sigilo profissional e os códigos de moral e conduta que regem sua profissão.
Todo comportamento tem suas razões. A Ética é simplesmente a razão maior. David Hume
Ética na Engenharia
A Engenharia existe desde os mais remotos tempos. Pode-se afirmar que ela existe desde o aparecimento do homem na face da Terra. Se a entendermos como a arte de usar a técnica para realizar aquilo que a imaginação humana concebe, verificaremos que enquanto existir a humanidade, ela estará presente.

A Engenharia, compreendida como a arte de fazer, consiste em aplicar conhecimentos científicos à criação de estruturas, processos e dispositivos, que são utilizados para converter recursos naturais em formas adequadas ao atendimento das necessidades humanas.

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Nos cursos de engenharia estuda-se entre outras coisas, projetos, dimensionamentos, análises, processos e avaliação de desempenho.
Mas onde entra a ética?
Engenheiros projetam produtos e equipamentos, máquinas e equipamentos agrícolas, sistemas de tratamento de matérias primas, aplicativos de gestão. Contribuem para o avanço da sociedade com o desenvolvimento de novas tecnologias; Desenvolvem processos que, muitas vezes, modificam nossa forma de viver.

Porém, produtos e processos tem consequências na sociedade Se um sistema de irrigação não funcionar, o agricultor perde a produção; Se o alimento não for manipulado de forma correta pode acarretar riscos à saúde humana; A falta de tratamento adequado de resíduos em um processo industrial pode gerar problemas ambientais graves; Uma linha de produção não projetada corretamente pode levar a prejuízos à empresa, gerando desempregos;

E uma edificação que não segue os padrões normativos de construção e manutenção pode, além de causar prejuízo econômico, expor a vida de seus usuários a sérios riscos.
Decisões tomadas por engenheiros geralmente tem sérias consequências para as pessoas e para a sociedade.

Assim, a Ética na Engenharia regula os relacionamentos entre: Engenheiro e a sociedade; Engenheiro e outros profissionais; Engenheiro e meio ambiente; Engenheiro e empregador; Engenheiros e seus clientes.O Código de Ética do Profissional da Engenharia enuncia os fundamentos éticos e as condutas necessárias à boa e honesta prática da profissão, relacionando direitos e deveres correlatos de seus profissionais.

Estabelece que a profissão deve ser praticada através do relacionamento honesto, justo, com igualdade de tratamento entre os profissionais, com lealdade na competição e com base nos preceitos do desenvolvimento sustentável na intervenção sobre os ambientes naturais e construídos. Além disso, deve ser praticada com isenção de perigo ou danos às pessoas, seus bens e seus valores

Dentre alguns deveres do profissional de engenharia destacamos:
Desempenhar sua profissão ou função nos limites de suas atribuições e de sua capacidade pessoal de realização;
Fornecer informação certa, precisa e objetiva em publicidade e propaganda pessoal;
Atuar com imparcialidade e impessoalidade em atos arbitrais e periciais;
Alertar sobre os riscos e responsabilidades relativos às prescrições técnicas e as consequências presumíveis de sua inobservância;
Atuar com lealdade no mercado de trabalho, observando o princípio da igualdade de condições;
Manter-se informado sobre as normas que regulamentam o exercício da profissão;
Atender, quando da elaboração de projetos, execução de obras ou criação de novos produtos, aos princípios e recomendações de conservação de energia e de minimização dos impactos ambientais;

Considerar em todos os planos, projetos e serviços as diretrizes e disposições concernentes à preservação e ao desenvolvimento dos patrimônios sociocultural e ambiental.
Porém, quando acidentes de maior proporção ocorrem, como os de Mariana, Brumadinho, Ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro e Plataforma 36 da Petrobras, a Ética dos profissionais envolvidos é questionada.

Foi um incidente (imprevisto), um acidente (desastre), falha de projeto, falta de fiscalização, tecnologias de risco ou falta de ética? E a responsabilidade é de quem? Da empresa ou do engenheiro?
Vemos também na área de consultoria e diagnóstico de construções preditivas muitos acidentes que poderiam ter sido evitados se os princípios éticos que regem a profissão e os relacionamentos fossem observados.

Temos ainda muito o que debater e transformar, por meio principalmente da mudança de cultura e paradigma do setor.
Conflitos de interesses nas empresas, compromisso profissional, interesse econômico, sustentabilidade, práticas questionáveis, corrupção, controle de preços e desvalorização profissional são alguns dos problemas a serem enfrentados.

Assim, um dos grandes desafios do profissional do Sistema Confea/Crea é a atuação nos limites dos princípios éticos e de responsabilidade social, buscando em cada ação, a excelência.

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