Administradora

São Paulo – A administradora Fort House é denunciada por ao menos 40 condomínios pelo suposto desvio de R$ 30 milhões. O dinheiro estaria depositado em uma conta conjunta à qual a empresa tinha acesso. O calote foi comunicado pelo dono da administradora, em carta enviada aos síndicos de edifícios administrados pela empresa no dia 19/3.

Assim que soube que R$ 437 mil haviam desaparecido do caixa de seu condomínio, na zona sul da capital paulista, o síndico Ricardo Nascimento, 46 anos, foi à 2ª Delegacia do Aeroporto de Congonhas (Deatur) e registrou boletim de ocorrência de apropriação indébita.

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Ricardo relatou que uma funcionária da Fort House teria confirmado o encerramento das atividades da empresa entre os dias 18 e 19. O escritório da administradora, no Jabaquara, zona sul de São Paulo, foi fechado.

“Fomos roubados. Fizemos um grupo [de WhatsApp] com 40 síndicos, para a gente se organizar sobre como agir nessa situação”, afirmou Ricardo à reportagem.

No dia 19, João Carlos Capporicci, sócio administrador e diretor da Fort House, enviou carta aos síndicos dos 40 condomínios, explicando os motivos do rombo: “Não há justificativa para a minha conduta”, admitiu.

No documento, ao qual o Metrópoles teve acesso, ele afirmou ter enfrentado “dias conturbados” nos quais teve “muitas limitações físicas e mentais”, além de uma depressão, atribuídos a uma internação decorrente da Covid-19, no início da pandemia.

Diretor de empresa mandou carta aos condomínios falando sobre encerramento de atividades

“Sinto muito por todo o mal que estou causando aos condôminos, mas as decisões erradas geraram um grande problema financeiro, que me obrigou a recorrer a empréstimos com agiotas e bancos, com altos índices de juros, fulminando completamente qualquer chance de eu conseguir quitar as dívidas”, diz a carta.

O diretor da administradora acrescentou não ter adquirido bens nem desviado dinheiro, nem “tampouco” enriquecido. Disse estar “completamente falido.”

Além da carta, ele enviou aos clientes as contas que estavam para vencer, que não foram pagas, e pendências com o INSS. “Estou fechando a Fort House, encerrando as atividades […] Com enorme dor na alma encerro esta carta, pedindo humildemente sinceras desculpas por todo o mal que estou causando a vocês”, conclui João Carlos.

Em seu site, tirado do ar, a administradora afirmava estar no mercado desde 1993.

Esfera jurídica

Ao constatar o desaparecimento do dinheiro e após receber a carta, o síndico Ricardo Nascimento convocou assembleia extraordinária para informar sobre o calote às 64 famílias do condomínio que administra. Ele notificou fornecedores para que estendam as datas para o pagamento de dívidas, além de contratar a advogada Magna Silva.

A advogada afirmou ao Metrópoles, na tarde desta quarta-feira (29/3), que estima em cerca de R$ 30 milhões o rombo contabilizado de todos os condomínios administrados pela empresa de João Carlos. O escritório dela, especializado em fraudes, move ações cíveis e também irá acompanhar o desenrolar do caso na esfera criminal, onde já há dois inquéritos policiais instaurados.

“Vamos arguir uma tese de desconstituição da personalidade jurídica da empresa para tentar atacar o patrimônio dos sócios, com medida cautelar, visando o sequestro de bens, para evitar transferência e vendas e garantir o ressarcimento ao condomínio”, explicou a advogada.

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Até momento, ela representa o condomínio de Ricardo e negocia com outros prejudicados, para também ajudá-los no caso.

Administradora: “Pegar e perder são diferentes”

A reportagem não conseguiu falar com João Carlos. Por meio de seu advogado, Márcio José Macedo, o empresário afirmou não ter se apropriado do dinheiro de seus clientes.

“Pela luz da lei, ele não se apropriou [do dinheiro]. Pegar e perder são diferentes, ele perdeu com agiota e banco e não tem dinheiro nem para comer.”

O defensor da Fort House disse que seu cliente perdeu o controle da administração dos milhões aos quais tinha acesso quando começou a usar o dinheiro de um condomínio para cobrir a suposta inadimplência de outro.

“Começou a tapar os buracos, a conta ficou negativa, entraram os juros dos bancos. Ele tinha quase R$ 1 milhão de juros com bancos”, acrescentou o advogado.

Márcio José Macedo ainda disse que, após falar com o empresário, ele afirmou não ter perdido R$ 30 milhões. “Ele ficou devendo, R$ 2 milhões, R$ 3 milhões, R$ 4 milhões. Isso [R$ 30 milhões] é sensacionalismo.”

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Além das dívidas com os bancos, o defensor disse que João Carlos contraiu dívidas com agiotas, que o estariam ameaçando. “Ele não tem dinheiro para devolver e não usufruiu nada disso aí.”

Fonte: Metropoles

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