Num passado não tão distante éramos informados por meio dos telejornais que no futuro os carros e demais meios de transporte seriam prioritariamente movidos á energia elétrica. Tal demanda ocorria devido ao alto preço dos combustíveis fósseis, pelo declínio das reservas de petróleo no mundo e também por preocupações ambientais como a poluição gerada nas cidades. Um quinto de toda emissão de dióxido de carbono (CO²) é oriundo da emissão de fumaça liberada pelos motores alimentados por combustíveis fósseis dos carros nas grandes cidades, sendo a principal fonte de poluição do ar nos grandes centros urbanos.
Nas famosas feiras automobilísticas diversos fabricantes brigavam para mostrar seus protótipos que entrariam em produção, e que dentro de alguns anos estes já estariam nas ruas das grandes cidades, em especial as do primeiro mundo (Estados Unidos, Europa) e China.
A época as previsões de valores destes modelos os tornavam bens de certa forma proibitivos para a grande maioria dos consumidores, que somado ao baixo desempenho das baterias, o que afetava negativamente a autonomia destes automóveis, nos levava a crer que demoraria muitos anos para que estes modelos se fizessem presentes nas ruas brasileiras.
Entretanto o avanço no desenvolvimento de baterias mais eficientes nos últimos anos impulsionou não somente o desenvolvimento e lançamento de vários modelos de carros híbridos (elétricos e combustão interna) e elétricos, bem como de outras opções de transporte (ônibus, motocicletas e até mesmo patinetes elétricos).
A produção de carros elétricos acelera pelo mundo, já provoca mudanças na indústria automobilística e promete transformações na mobilidade urbana. Entre os anos de 2015 e 2016 a produção deste tipo de veículo aumentou em 60%. De acordo com o relatório Global EV Outlook 2017, da Agência Internacional de Energia (AIE), a quantidade de unidades em estoque no mundo poderá chegar a 70 milhões de unidades em 2025. Outra projeção, esta elaborada pela consultoria Morgan Stanley indica que em 2030 aproximadamente 16% da frota global de veículos de passeio será movida a baterias. Existe montadora que já anunciou que a partir de 2020 todos seus carros produzidos serão elétricos, tendo estabelecido uma data para abandonar a produção de carros com motores à combustão.
Embora ainda com preços considerados altos para o mercado brasileiro, é estimado que em 2020 a frota brasileira de veículos elétricos possa atingir a marca de 40 mil unidades. Mesmo que de forma tímida se comparado com outros mercados (chinês, americano e europeu), a verdade é que a presença de carros elétricos já é uma realidade nas ruas brasileiras.
Os fabricantes, no anseio de elevar a percepção positiva de seus modelos junto ao mercado consumidor, tem dito que os mesmos podem ser ligados em qualquer tomada, bastando chegar em sua residência, puxar uma extensão e pronto.
Mas a nossas edificações, em especial os condomínios residenciais, estão preparadas para lidar com esta nova tecnologia?
A resposta é NÃO.
Em geral as instalações elétricas existentes não são adequadas para serem usadas para o carregamento de carros elétricos. Os circuitos elétricos não foram dimensionados para atender a esta carga tão especifica, a cabeação é antiga, entre outros fatores impeditivos que podem colocar as instalações elétricas existentes em graves riscos de queima ou mesmo incêndio.
Imaginemos a situação hipotética de um morador do sexto pavimento que adquire um automóvel elétrico. Quais opções para alimentação elétrica que este morador poderá implementar para alimentar seu automóvel? Puxar uma extensão do sexto andar é impraticável por diversos fatores, restando ao mesmo usar a rede elétrica do condomínio existente na garagem. Este circuito (tomada, cabos, disjuntor) existente na garagem está dimensionado corretamente para tal aplicação? Considerando que a maioria dos condomínios tem mais de 30 anos e que sua cabeação nunca foi trocada (vida útil dos cabos estimada em 30 anos) é confiável permitir esta operação? Como será implementado o rateio no pagamento da conta de energia elétrica do condomínio, visto o considerável aumento de consumo de energia?
Mas existe solução? Sim, existe.
O mercado de fabricantes de materiais elétricos já vem desenvolvendo elementos específicos para atenderem este mercado específico, com o desenvolvimento de estações de carregamento, incluindo cabos e tomadas, para atenderem especificamente cada fabricante de carro elétrico.
A implementação do carregamento de carros elétricos em instalações elétricas existentes e não preparadas para tal deve ser precedida de uma análise técnica adequada e exclusiva caso a caso, e em se considerando que a maioria das instalações prediais é antiga, maior deve ser o critério e preocupação.
A estação de carregamento deverá ser conectada a rede elétrica do condomínio por meio de um circuito elétrico exclusivo dimensionado para tal, bem como implementada a medição individual do mesmo para que seja cobrado do proprietário do carro o consumo da energia elétrica decorrente do aumento do consumo.
Outras alternativas podem ser adotadas por meio de vagas de garagem rotativas para alimentação de mais de um carro elétrico simultaneamente, porém esta alternativa é mais adequada para prédios de escritórios ou mistos (comercial e residencial).
Cada caso terá sua solução técnica exclusiva. Deve ser providenciada análise da viabilidade técnica por meio de levantamento das instalações elétricas existentes, avaliação das alternativas técnicas aplicáveis ao caso específico, elaboração de projeto elétrico completo, incluindo todo o novo sistema de alimentação, desde o disjuntor exclusivo a ser instalado no painel elétrico do condomínio e eventuais alterações que venham a ser necessário neste painel, um sistema de medição exclusivo, circuito elétrico, estação de recarga, garantindo desta forma que o processo de carregamento elétrico do carro aconteça de forma segura.
Importante ressaltar que o estudo, levantamento, projeto e execução sejam executados por empresas e profissionais capacitados e devidamente registrados nos conselhos regionais (ex.: CREA), e que estes serviços possuam as respectivas ART (Anotação de Responsabilidade Técnica).
Fato é que os veículos elétricos vieram para ficar e desde que devidamente tratados tecnicamente caso a caso, é perfeitamente possível á integração dos mesmos as edificações existentes.
Por: Eng. Eletricista Júlio César Máximo
ITC Thermographer Nível 1