O Ministério Público do Amazonas investiga a vacinação contra a Covid–19 de moradores de um condomínio fechado de casas em Iranduba, município da região metropolitana de Manaus. A secretaria de Saúde do município e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas consideram que eles fazem parte de uma comunidade ribeirinha – um dos grupos prioritários de vacinação.
Agentes de Saúde da prefeitura de Iranduba estiveram no condomínio para cadastrar as pessoas que deveriam receber a dose da vacina. No dia da vacinação, cerca de 150 moradores foram vacinados no salão de eventos do condomínio.
Os moradores compartilharam vídeos e fotos nas redes sociais comemorando. Uma mulher postou que “não podia perder a oportunidade”. O marido dela também se vacinou.
Outro morador até brincou dizendo que a foto não era montagem. A próxima dose está marcada para 30 de julho.
Mas do outro lado da rua, os vizinhos do condomínio não foram vacinados e nem avisados.
“Eu vi o pessoal, mas não chegaram até a gente, né? Mas eu acho que era para nós, né? Que somos ribeirinhos. Eles são de altas classes, né? Chegasse a vez dele, né?”, disse Natanael Torres, ribeirinho que ainda espera ser imunizado.
Carlos Pereira tem 72 anos e a dona de casa Varluci Pereira tem 67. Para serem vacinados, tiveram de ir até um posto de saúde.
“Já, já fui vacinado, mas eu procurei eu mesmo, mas ninguém veio aqui avisar”, disse Carlos. “Empresário para ribeirinho tem muita diferença”, concluiu o ribeirinho.
“Todos nós precisamos e temos que ser vacinado, né? Essa é a nossa esperança, mas cada qual no seu lugar, porque eles não são ribeirinhos. Isso aí é um condomínio”, disse Varluci.
Iranduba tem 49 mil habitantes. Segundo o governo do estado, 26 mil moradores são do grupo prioritário, como idosos, ribeirinhos e profissionais da saúde. A prefeitura diz que vacinou 65% desse grupo. São 17 mil pessoas – o que daria mais de um terço da população do município.
Em abril, a cidade chegou a ter doses da vacina em estoque. Depois de ser questionada por órgãos fiscalizadores, acelerou o ritmo da vacinação.
O secretário de Saúde diz que o condomínio não foi privilegiado e que os moradores foram vacinados porque estão em uma área considerada ribeirinha.
“Não foi por privilégio, foi uma questão de logística. Eu preciso concentrar um número de pessoas ali, preciso vacinar essas pessoas, não foi por um privilégio”, afirmou Ricardo Bezerra de Freitas, secretário de Saúde da cidade.
“Antes nós vacinamos toda a população ribeirinha, então não foi primeiro o condomínio, foi primeiramente a população ribeirinha”, disse. “Vacinando de acordo com o tem que ser vacinado, seguindo os critérios técnicos, seguindo os critérios do Plano Nacional de Imunização, do Plano Estadual de Imunização, das normativas que a própria FVS nos demanda e nós estamos seguindo”.
A Secretaria de Saúde do Amazonas informou que uma equipe técnica não constatou nenhuma irregularidade relacionada à vacinação do grupo prioritário de população ribeirinha.
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O Ministério Público considera que a vacinação no condomínio foi irregular – e que os moradores não poderiam ser incluídos como prioritários.
“Isso merece uma investigação, né? Em razão dessa vacinação em massa dentro de um local privado, que não é o caso, né? Que a vacinação ela não se dá em locais dessa natureza e aí o Ministério Público irá fazer um trabalho investigativo para identificar os responsáveis pela ordem, porque isso é preciso, né? Identificar quem na verdade desvirtuou o PNI para essa vacinação e os que foram efetivamente vacinados sem estar nessa categoria”, afirmou a procuradora de Justiça Silvana Cabral.
O condomínio declarou que foi procurado pela Secretaria de Saúde do munícipio e que foi a Secretaria que colocou os moradores na categoria de ribeirinhos.