Muitos prédios não têm rede elétrica com capacidade para aguentar o aumento do consumo causado pelos aparelhos. Em outros, a estética é o obstáculo.
No calor do verão, o conforto do ar-condicionado ainda é para poucos. Para uma parcela imensa da população, o preço é alto demais. Mas, mesmo para muitos que teriam como pagar, pode haver outros impedimentos.
É com ventiladores que o aposentado Roberto de Oliveira tenta driblar o calor. Ele tem quatro, mas ainda acha pouco.
“Tem que torcer para chover e a temperatura baixar”, diz.
Ele queria mesmo era ter ar-condicionado. Só não compra porque não pode instalar.
“O condomínio precisaria dar respaldo e a gente fazer o que era necessário para ter”, explicou.
Com três torres, o condomínio onde seu Roberto mora não tem a fiação adequada para instalação dos aparelhos nos apartamentos. Apenas áreas comuns, como o salão de festas, têm ar-condicionado.
“O pessoal sempre reclama, mas infelizmente a estrutura do condomínio não suporta essa carga”, explica o zelador Paulo Santos.
Nos últimos 12 anos, a estimativa é que o número de residências com aparelhos de ar-condicionado no país tenha subido quase 10%.
E o consumo de energia devido ao uso do equipamento triplicou nesse período. Especialistas alertam: quem desrespeita a limitação elétrica coloca todo o prédio em perigo.
“Pode cair disjuntores e até coisas piores como curto-circuito, chegando até, em alguns casos fatídicos, como já houve em São Paulo, a incêndios”, afirma Arnaldo Parra, da Associação Brasileira de Ar-Condicionado.
É possível aumentar a capacidade elétrica do edifício em muitos casos, mas isso tem um preço. Num prédio de dez andares, com 40 apartamentos, por exemplo, a reforma elétrica para dar conta do consumo de dois aparelhos de ar-condicionado por apartamento custaria em média R$ 300 mil para o condomínio.
É preciso levar em conta ainda a parte estética. Não existe nenhuma legislação que obrigue os condomínios a padronizar a instalação dos aparelhos. A ideia é que o ar-condicionado traga mais conforto dentro de casa, mas sem mudar as características da fachada dos prédios.
Para isso, a regra básica é a do bom-senso entre os moradores. Os condôminos precisam aprovar em assembleia os locais do prédio onde o morador pode e não pode instalar o aparelho.
“Se cada um começar a colocar o ar-condicionado que quiser e no lugar que quiser, a fachada do prédio fica horrível, fica feia e desvaloriza o imóvel das pessoas”, explica Márcio Rachkorsky, advogado especialista em administração de condomínios.
No prédio do empresário Ricardo Goldenberg, há quatro anos surgiu a pergunta: posso ou não posso instalar ar-condicionado?
“Um dos moradores que estava reformando o apartamento ficou nessa dúvida”.
Ficou então decidido: pode instalar, desde que a parte externa do ar-condicionado fique escondida na varanda ou pendurada na parede dos fundos. Já ar-condicionado de janela só é permitido nas laterais do prédio.
“Faz realmente diferença na hora de valorizar o apartamento. A fachada está bonita, está preservada e as pessoas ainda podem ficar aí sem passar calor”, concordou Goldenberg.